Como escolher uma carreira: O sonho de ser cientista, a preocupação financeira e o apoio familiar

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Conteúdo produzido por Por JuCa Moreno de Sousa sobre um processo que pode te ajudar em como escolher uma carreira


Quando eu estava prestes a terminar o Ensino Médio meu pai chegou pra mim e falou: “Filhotão, você tá terminando o colégio e já tá na hora de pensar no que você vai querer fazer depois. Se vai querer fazer uma faculdade, ou se vai procurar um emprego ano que vem”.

Já estava claro na minha cabeça que eu queria fazer uma faculdade. 

Que eu queria ser um cientista. “Então eu quero que você pense muito bem no que você vai querer estudar. Não importa o que seja, eu e sua mãe vamos te apoiar e fazer todo o possível pra você fazer essa faculdade.”

Ouvir ele dizer essas palavras foi tão importante pra mim… 

Eu sabia que poderia contar com eles pra tudo e me senti cada vez mais animado e confiante para buscar uma carreira que me fizesse feliz. 

Ele continuou: “O que eu NÃO quero é que você faça algum curso desses que muita gente faz só pra querer ficar rico. Eu quero que você faça aquilo que você gosta, que você acha que vai te fazer feliz. Eu vejo que uns pais dos seus colegas de classe já tão falando que os filhos vão fazer direito, medicina, agronomia etc, sem nem sequer perguntar pros filhos o que é que eles realmente querem”

Eu não queria nada dessas coisas. Eu queria ser um cientista, muito mais do que ser rico. Sempre me interessei, desde pequeno, por evolução humana.

anotações de aula

 A importância dos pais da hora da escolha da carreira

Quatorze anos depois não parece que a situação mudou muito em relação ao apoio que os pais dão aos seus filhos na hora de escolherem uma carreira. 

Trabalhando com divulgação científica hoje, sempre recebo mensagens de jovens interessados na minha profissão: a arqueologia.

Veja alguns trechos de e-mails que recebemos em nosso site de pessoas interessadas na minha

profissão e veja se você percebe algum padrão:

Estou muito interessada em fazer esse curso, mas minha dúvida é se há mercado de trabalho no Brasil e quanto é o salário de um arqueólogo”.

“Eu estou me formando no ensino médio em escola pública e tenho um certo interesse sobre arqueologia, ciências humanas e biológicas, mas uma coisa que me deixa com um pé atrás em fazer o curso é o mercado de trabalho de um arqueólogo. Pode me dizer quais são as principais áreas do mercado”.

“Vocês poderiam falar sobre o mercado de trabalho para o arqueólogo? Eu li no blog, mas gostaria de saber se não é arriscado, apesar de ler lá que é uma profissão que ainda não existe tantos profissionais na área, se isso é um aspecto positivo ou não.”

Minha dúvida,  é que queria saber como é o mercado de trabalho para o Arqueólogo,  gostaria de saber se é fácil arrumar trabalho nessa área,  porque pelo que andei pesquisando,  alguns sites dizem que é um mercado que falta arqueólogos,  todavia,  outros falam que o mercado de trabalho é escasso.  Gostaria de saber de você, que trabalha na área, o que acha?”

“Boa noite, sou estudante do ensino médio e arqueologia é uma profissão que desejo cursar, mas infelizmente ainda tenho dúvidas sobre algumas questões sobre esse tema. Umas delas é sobre o mercado de trabalho, pois não tenho a consciência sobre esse mercado no país.”

Recém terminei o meu 2°grau, e penso na possibilidade de me tornar arqueóloga. Porém a disponibilidade do mercado de trabalho para este profissional, deixa a desejar, e isso acaba afetando a minha decisão, pois sofro uma pressão familiar por conta disso. Não sei ao certo como é ou está o mercado de trabalho no Brasil, e gostaria muito de saber se é muito difícil exercer a profissão, ter um emprego estável, e assim por diante”.

“Tenho 17 anos, terminei o ensino médio ano passado, e estou esperando o resultado do curso de relações internacionais, mas não sei se essa foi uma boa escolha. Li diversos artigos sobre paleontologia e arqueologia e estou ciente que devo seguir uma das duas áreas. Qual a média de salário de um professor universitário, e ou pesquisador? O mercado de trabalho é bom nessas áreas?”

“Gostaria de saber como é o mercado de trabalho em arqueologia no Brasil, pois por ser uma área não tão comum no Brasil, temo que depois de formado não conseguir colocação na área. Obs.: Sou formado em análise de sistemas e trabalho na área de TI.”

“Sou estudante de Licenciatura em Filosofia. Sempre tive o sonho de me tornar arqueólogo, desde criança mesmo, mas sempre fui desestimulado a isso. Já faz dois anos que eu decidi seguir com esse sonho, antes disso passei anos perdido numa graduação de Direito e depois embarquei na Filosofia, que eu gosto até certo ponto, mas não faz meu coração pular como a possibilidade de ser um Arqueólogo faz. Enfim… Eu estava lendo uma matéria de vocês e fiquei com umas dúvidas, gostaria de pedir sua ajuda.”

“Eu já me interessava por arqueologia/história/paleontologia desde criança. Mas por motivos de: insegurança com mercado de trabalho, família e quebra de padrões, acabei me formando na área de comunicação. Tenho 22 anos, já estou formada a 1 ano e meio, comecei tudo meio cedo. Por conta disso e de minha insatisfação com o que trabalho atualmente, percebi que não é isso que eu quero da vida, e penso em fazer uma segunda graduação”.

“Bom dia faz anos sonho em me tornar uma arqueóloga, porém alguns imprevistos surgiram e tive que dar um tempo neste sonho isso se passaram 14 anos, hoje pretendo por em prática este sonho”.

“Apesar de sonhar em cursar Arqueologia, iniciei os estudos em Engenharia Florestal em grande parte motivado pela dificuldade de sair de minha cidade, no interior do Mato Grosso, e também por dúvidas em relação à viabilidade de ingressar nesse ramo de estudos.”

“Sonho em ser arqueólogo desde criança, e ainda alimento essa vontade. Desde de muito pequeno me atraem assuntos relacionados a arqueologia, documentários e escavações,  acompanho todas as notícias que eu consigo relacionadas ao assunto, sempre com muito interesse embora a correria do dia a dia ter optado pela gestão da qualidade/marketing. Também trabalho com produção de eventos. Ainda assim o sonho em arqueologia cada vez aperta mais…”

“Eu venho procurando informações sobre o curso, pois já sou graduada (sou advogada), mas sempre tive esse sonho de trabalhar com arqueologia. Sabes me dizer como é o mercado de trabalho para arqueólogos”.

“Tenho 24 anos, Graduado em Enfermagem e Especialista em Docência do Ensino Superior. Formei-me num curso onde não estou satisfeito, demorei pra perceber que não sou uma pessoa da área das ciências da saúde, mas sim, uma pessoa da área das ciências humanas. Mas existe algo muito bom que pude descobrir, o universo da pesquisa cientifica, onde pude dar razoáveis mergulhos. Gostaria eu de ser um Arqueólogo.”

 “Eu tenho 32 anos e sou analista contábil, trabalho nessa área por questões de necessidade mesmo, mas você já deve imaginar que isso não tem absolutamente nada a ver comigo e eu detesto. (Risos). Meu sonho antigo sempre foi ser arqueólogo, porém a vida me levou pra outros caminhos…”

“Sonho em ser arqueólogo desde criança, e ainda alimento essa vontade. Acompanho todas as notícias que eu consigo relacionadas ao assunto, sempre com muito interesse. Mas fiz Psicologia (estou no doutorado) e trabalho com o desenvolvimento da cognição e da inteligência. Será que algum dia será possível conciliar as duas ciências? É algo que eu gostaria muito de conseguir fazer.”

“Arqueologia… Uma grande paixão!!! Como eu gostaria de realizá-la nem que fosse no final da vida… Me tornei professora por erro de percurso, mas bem por falta de opção e dinheiro, e mesmo fazendo muito bem o meu trabalho, este nunca foi o meu sonho. Sempre quando vejo ou ouço qualquer coisa sobre arqueologia, meu coração ainda bate forte”.

Estes são apenas alguns exemplos de e-mails que recebo no site.

Certamente é válido ter dúvidas sobre o mercado de trabalho, afinal, todo mundo quer ser feliz trabalhando com aquilo que gosta, mas também quer ter um bom sustento.E não é toda área da ciência que é bem conhecida ou que tem muitos profissionais no país. 

Em geral, minha resposta para essas pessoas é basicamente a mesma: Escolha como sua carreira aquilo que te fará feliz, sem se preocupar demasiadamente com o mercado de trabalho. 

Se você é feliz trabalhando com alguma coisa, se você é apaixonado pelo que você faz, é inevitável que você se tornará um ótimo profissional.

E oportunidades jamais faltarão aos bons profissionais. Em seguida eu costumo dizer sobre como ser um cientista na minha área não vai te deixar milionário, mas ao menos te permite viver com conforto e sendo feliz, fazendo o que ama, e que existem poucos profissionais da minha área no Brasil e sempre há uma demanda.

Outro padrão que se vê nessas mensagens, e em relatos de pessoas que eu conheço pessoalmente, está relacionada à infelicidade que alguns sentem com suas atuais profissões. 

Não gostam de um carreira que te deixa preso numa rotina diária, que não te traz desafios científicos a serem superados.

É recorrente cientistas ouvirem alguém dizer algo como “sua profissão era o meu sonho, mas eu acabei fazendo outra coisa”.

As vezes o motivo foi por questões econômicas, mas geralmente o que se ouve dessas pessoas é a falta de apoio familiar.

 O apoio da família durante a formação

Conversando com colegas cientistas mais próximos, a maioria relata que sempre teve apoio familiar, ou que só conseguiu vingar na carreira graças ao apoio da família. 

Em uma pesquisa bem informal com essas pessoas, registrei que cerca de 82% sempre teve ou passou a ter, depois de ingressar na universidade, total apoio da sua família para seguir na carreira científica. Apenas cerca de 18% desses colegas não tem ou jamais teve apoio da família. 

Mas notemos como essa é uma diferença gritante.

É difícil imaginar alguém se tornando um cientista sem ter o apoio da família para isso.

E quando eu falo de apoio, eu não falo apenas da questão financeira, mas também do aspecto emocional. 

Já é difícil conciliar os estudos na faculdade com um emprego, principalmente se você precisa fazer viagens de campo, estágios de iniciação científica e etc. 

Mas essa é uma realidade que nem todos podem evitar, mesmo tendo o apoio da família para se tornar um cientista. 

Sem o apoio emocional de seus entes queridos isso se torna ainda mais difícil. Para mim, é muito decepcionante e desmotivador ter parentes que não veem ou se recusam a aceitar a importância da ciência.

 E há colegas que relatam que pais ou outros membros próximos da família sequer acreditam em seu potencial como um cientista, mas continuam na luta pela sua carreira.

Confesso que eu não sei o que seria de mim hoje se eu não tivesse o apoio incondicional de meus pais para seguir minha carreira.

 Eles me deram e ainda me dão uma motivação não só para continuar fazendo o meu trabalho prezando pela qualidade da pesquisa e sendo muito feliz com isso. Eu me sinto ainda mais motivado querendo que eles sintam orgulho de mim. E quando eles demonstram isso a recompensa é um sentimento inigualável.

Com isso, eu não quero dizer que as pessoas que buscam uma carreira científica desistam de seus sonhos porque não possuem apoio da família. 

É uma luta mais difícil, talvez menos motivada, mas que valerá a pena no final das contas. Não importa quem seja a pessoa que é contra a sua busca pelo seu sonho em se tornar um cientista. 

As conquistas da  jornada

Uma vez que você passa a ter sucesso na sua jornada, não importa o que ela pensará de você. O que não pode é deixar de buscar os seus sonhos por pressão familiar, por uma crença sem lógica de que apenas determinadas carreiras “dão dinheiro”. 

Dinheiro é muito bom, te permite viver no tipo de sociedade que vivemos neste mundo moderno, nos permite até realizar nossas pesquisas científicas, mas não necessariamente te trará aquela felicidade que você tanto procura em sua vida. 

E se você não é feliz numa profissão, você não se sente motivado a trabalhar bem e poderá não se tornar um bom profissional, faltando-lhe oportunidades. 

E mesmo que você já tenha buscado outra carreira, nunca é tarde para ir atrás dos seus sonhos.

Seu sonho não precisa ser o mesmo que o de seus pais. Se o apoio emocional é algo que, para você, é essencial para conseguir lutar pelo seu sonho na carreira científica, mas sua família não te dá esse apoio, não se preocupe. 

Sempre haverá amigos, professores e colegas que te darão todo o apoio necessário. 

Você conhecerá outras pessoas que tem a mesma paixão que você e vocês sempre se apoiarão. Pode contar com a gente.


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