‘A Língua é plural!’ — vamos refletir sobre o preconceito linguístico?

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O preconceito linguístico é o julgamento de uma pessoa em razão da forma que ela se comunica, a partir de uma baliza sobre a norma padrão da língua portuguesa. Mas existe só uma forma de se comunicar?


Sumário

  1. O que é preconceito linguístico?
  2. Exemplos de preconceito linguístico
  3. Como ocorre preconceito linguístico?
  4. O preconceito linguístico no Brasil
  5. Como evitar o preconceito linguístico?
  6. Conte com a Mettzer para ajudar no seu trabalho

É provável que você já tenha corrigido uma pessoa que falou alguma palavra errada. Ou então, você viu alguém corrigindo outra pessoa. Eu mesma já fiz isso. Muitas vezes.

Essa situação pode ser mais ou menos constrangedora, dependendo do nível de intimidade e a idade das pessoas.

Essa ideia de que existe só uma forma de falar e escrever — e que determina as palavras certas e erradas — considera a norma das gramáticas e dos dicionários a forma certa da língua portuguesa.

Mas, afinal de contas, quem é que sustenta completamente essa norma? Sem cometer nenhum tipo de erro?

Se voltarmos um pouco na ideia, vamos perceber que o objetivo central da língua é comunicar e construir pontes entre as pessoas. E aí você me diz: só existe uma forma de comunicar bem?

Você que me acompanhou até aqui é portanto meu irmão, minha irmã neste nosso idioma. Falamos a mesma língua porque falamos versões diferentes de uma mesma língua sem um centro nítido, sem determinação única. Um idioma de muitas verdades” — o professor Caetano Galindo, autor do livro “Latim em pó“, coloca luz à diversidade que existe no português.

A verdade é que, numa perspectiva linguística, não existe só uma única forma de falar e escrever. Todas as concepções que não consideram essa premissa produzem situações de preconceito linguístico.

O principal ponto é que talvez você esteja causando situações de violência como essas sem se dar conta, não é mesmo?

Pois bem. Pensando em esclarecer essa história toda, esse artigo vai explicar o que é e como funciona o preconceito linguístico e, especialmente, o que precisamos fazer para evitá-lo 🙂

O que é preconceito linguístico?

Antes de mais nada, é importante dar uns passos para trás e retomar o conceito de preconceito. Em seu livro Preconceito linguístico: o que é, como se faz, Marcos Bagno define termo preconceito como uma atitude que menospreza (de algum modo) uma pessoa, antes mesmo conhecê-la.

Embora seja uma atitude individual, o preconceito reflete ideias coletivas — isto é, são concepções que circulam na sociedade e na cultura em que vivemos.

O preconceito racial, por exemplo, é a concepção prévia e pejorativa sobre uma pessoa negra. Da mesma forma é o preconceito de gênero (em relação às mulheres), de classe social, de orientação sexual e por aí vai.

Nesse contexto, o preconceito linguístico é uma forma de discriminação que consiste em julgar previamente uma pessoa em razão da forma que ela se comunica.

Nesse caso, o parâmetro do julgamento é a idealização da norma culta. Ou seja, o português que obedece exatamente a todas as normas de gramática dos livros e dos dicionários.

No entanto, como explica o professor Caetano Galindo (p. 192), “Gramática, no sentido duro, importante, é o conjunto de regras que regem o funcionamento coerente de uma variedade linguística” — então, todo mundo que fala português domina mais que adequadamente todas essas regras.

A Gramática, “no caso, aquele livro que se usa na escola“, explica apenas “como funciona uma dessas variedades (a norma culta). Não é receita da única forma correta de nos expressar na nossa língua“.

Inclusive, Carlos Alberto Faraco chama não de norma culta, mas de norma curta — em função de tudo que essa receita do livro Gramática escolhe ignorar.

Na perspectiva desse preconceito, a norma culta é a língua certa, enquanto todas as outras formas de falar e escrever estão erradas.

Isso significa que o preconceito linguístico parte do pressuposto de que as pessoas que não seguem a norma culta estão falando o português errado. Ou seja, é um juízo de valor negativo em razão das variedades linguísticas de menor prestígio social.

Exemplos de preconceitos linguísticos

Sendo assim, são exemplos de atitudes preconceituosas em relação à língua:

  • Rir de uma pessoa em razão do seu sotaque;
  • Corrigir a pronúncia “errada” de alguém;
  • Acreditar que a norma culta é a única certa a se falar e escrever.
detector de plágio

Como ocorre preconceito linguístico?

O preconceito linguístico funciona a partir de um primeiro pressuposto: de que existe apenas uma forma de falar e escrever português. Essa forma, nessa concepção, é a norma culta da língua portuguesa.

Então, o preconceito linguístico deixa de considerar que as falas e as escritas têm nuances e diferenças em relação ao papel social e geográfico que as pessoas interlocutoras ocupam.

Exemplos de diferença contextual de linguagem

É só você pensar que a forma como você fala em casa com seus pais é diferente da forma como você fala na sua universidade ou em seu trabalho.

“A ideia de que é errado usar numa conferência ou numa reunião de trabalho a mesma língua que você usa quando está de pijama conversando com sua filha pequena é o espelho da outra, tão importante quanto ela: usar a língua engravatada com a filha em casa é um erro da mesma dimensão”.

Caetano Galino — Latim em pó (página 188)

Da mesma forma, o modo de falar das pessoas que nasceram e viveram no Nordeste do Brasil é diferente das pessoas que vivem no Sul.

A tradução do inglês para o português é uma forma de entender a complexidade e os vários formatos que as línguas podem assumir.

Em inglês “I love her” é uma frase gramaticalmente correta e, além disso, usada em todos os contextos e realidades.

No entanto, se traduzir para o português, o resultado é “eu a amo” — frase que nenhuma pessoa fala em contexto cotidiano. Na verdade, no Brasil, as pessoas falariam “eu amo ela“.

E qual é o problema que existe nisso? Nenhum. O problema está, na verdade, se alguém deixar de dizer que ama alguém em razão do preconceito linguístico.

Quais os efeitos do preconceito linguístico?

Nesse caso, a baliza desse preconceito é a norma culta da língua portuguesa — que está nos livros de gramática e nos dicionários. Tudo que se difere dessa norma é considerado errado.

E o pior de tudo: assim como explicou a doutora em linguística Janaisa Viscardi, o preconceito linguístico presume que as pessoas que não falam “bem” também não pensam bem.

Na continuidade desse pensamento, Jana explica que, assim como outras formas de preconceito, o linguístico também é uma manifestação elitista e opressora.

Especialmente porque coloca todas as outras pessoas que falam de forma diferente à norma culta (e, provavelmente, têm um grau de escolaridade menor) no lugar de não saber.

A partir disso, o preconceito linguístico inviabiliza e anula uma série de saberes populares e de expressões orais.

Então, por exemplo, uma situação que menospreza manifestações do funk, do rap e outras expressões de comunidades, tenta apagar a identidade de um grupo grande de pessoas.

No podcast Pra não passar em branco, da Hariana Meinke, Jana Viscardi explica melhor sobre as situações de preconceito linguístico:

O preconceito linguístico no Brasil

Agora que você já sabe o que é preconceito linguístico, vamos entender como isso se estabeleceu aqui no Brasil?

Bom, a verdade é que a história da língua portuguesa aqui no nosso país não tem um começo bonito. O português do Brasil se fundou em casos de extrema violência com os povos originários.

E, dentre tantas perspectivas dessa violência, uma delas foi a linguística. Quando os portugueses chegaram no Brasil, existiam mais de 1.000 línguas indígenas. No entanto, no processo de colonização, os portugueses exigiram que todas as pessoas aprendessem a falar português.

Então, o componente principal da norma culta da língua portuguesa no Brasil (e, portanto, base para o preconceito linguístico) é o português europeu do século XIX.

Isso é mais um dos indícios para mostrar que é simplesmente impossível que alguma pessoa siga completamente todas essas regras normativas.

Afinal de contas, elas prescrevem uma língua artificial: que não reflete os usos das pessoas que falam português (nem no Brasil nem em Portugal, é bom dizer).

E os eventos que se seguiram depois disso decorrem desses casos de violência. Atualmente, a principal fonte de preconceito no Brasil está na comparação que algumas pessoas (de classe média e urbana de grandes cidades) fazem entre o seu modo de falar e o de outras pessoas (de outras classes sociais e de outras regiões).

Ou seja, o preconceito linguístico no Brasil compreende a discriminação de outros fatores socioculturais e socioeconômicos, especialmente de classe social, de grau de instrução, de raça e de nível de renda.

O professor Caetano Galindo traz uma perspectiva histórica da formação do português que falamos (e escrevemos!) no Brasil. Inclusive, daquilo que a norma culta pode considerar um erro:

Quem fala “as coisa” (como eu faço quando estou em casa) dá voz a um processo de simplificação morfológica que já tinha bases no português em formação antes do Renascimento, e que foi revigorado de maneira muito direta no Brasil pela influência sobretudo dos falantes de línguas do grupo tupi, no qual os substantivos não se diferencial entre formas de singular e plural, e das línguas bantas, que formam seu plural com a troca de prefixos”.

Latim em pó (página 191)

Além do mais, outras características de outro idioma, como o quimbundo, podem explicar várias outras marcas da pronúncia brasileira — que, vale dizer, são vistas como desviantes da norma culta.

Nesse contexto, “as línguas bantas tendem a aceitar apenas sílabas compostas de uma consoante seguida de uma vogal. Nada de encontros consonantais, nada de sílabas que se fecham com outra consoante“. Isso pode explicar, portanto,

“[…] a inserção de vogais para desfazer certos encontros consonantais (como em rítimo, téquinico), o apagamento do r dos infinitivos (catá, fazê, medi) e as dificuldades de lidar com palavras que apresentam dois encontros consonantais seguidos (própio, poblema, dible)”.

Latim em pó (página 185 e 186)

Como evitar o preconceito linguístico?

Antes de pensar em como evitar (e até acabar) com o preconceito linguístico, deve-se ter em mente que a linguagem é mutável e, no fim das contas, a comunicação é o que importa.

Então, se a mensagem está passando com êxito da pessoa interlocutora para a pessoa receptora é o que importa. Ainda que essa mensagem tenha “erros” de português.

Sendo assim, nada mais poderoso do que conhecer as bases desse apego à norma culta para, a partir de então, não reproduzir mais.

Além do mais, como se funda em outros tipos de discriminações, o fim preconceito linguístico depende da reconstrução social em relação a esses temas.

Nos processos educativos, em salas de aula, por exemplo, a adequação linguística é uma forma alternativa de ensinar sobre a norma culta.

Nessa percepção, não existe forma certa ou errada de falar. Tudo depende do contexto que a pessoa está.

Então, em uma situação formal, é adequado usar a linguagem padrão (que é a norma culta). No entanto, em situações do dia a dia, deve-se ensinar as variações linguísticas da linguagem coloquial.

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