Eu, tu, elu  — por que e como usar a linguagem neutra?

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A linguagem neutra é uma forma respeitosa de se comunicar, considerando todas as formas de existências. Quer aprender como usá-la?


Sumário

  1. O que é linguagem neutra?
  2. Exemplos de linguagem neutra
  3. Por que usar linguagem neutra?
  4. Como escrever em linguagem neutra?
  5. Conte com a Mettzer para ajudar no seu trabalho

De fato, não sei se existe no Brasil, atualmente, outro tema mais polêmico do que a linguagem neutra.

De um lado, algumas pessoas lutam pela importância de adotar o uso desse tipo de linguagem para incluir pessoas não-binárias, transexuais, travestis e intersexo.

Na prática, a ideia busca construir uma linguagem inclusiva e respeitosa com todos os tipos de identidades de gênero.

Por outro lado, outras pessoas são extremamente contrárias ao uso da linguagem neutra. Inclusive, segundo o levantamento da Agência Diadorim, existem 34 projetos de lei contra o uso do gênero neutro na linguagem — especialmente no Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

A discussão não se restringe ao Brasil. Diversos países, como a França e a Argentina, estão questionando a possibilidade ou não de usar a linguagem neutra, especialmente no que se refere ao ensino dessas linguagens nas escolas.

Nos países de língua inglesa, existem pronomes sem definição de gênero. O que, inclusive, facilita a aderência da linguagem neutra.

Então, por exemplo utiliza-se “they” para situações sem gênero determinado — o que, em português, compreenderia eles/elas/elus.

O objetivo desse artigo é, portanto, explicar o que é a linguagem neutra e, especialmente, refletir sobre os motivos pelos quais é importante usar a linguagem neutra e como você pode fazer isso (de forma muito simples). Vamos lá? 🙂

O que é linguagem neutra?

Para começar, é importante entender o conceito de linguagem neutra — também conhecida como linguagem inclusiva ou não-binária. De forma geral, é um tipo de linguagem que tem como objetivo central incluir todas as identidades de gênero.

Em outras palavras, é uma linguagem que evita excluir que pessoas que não se identificam com os gêneros masculino e feminino, para tornar a comunicação mais inclusiva.

Ou seja, a linguagem neutra se baseia no uso de palavras que não façam demarcação de gênero binário (no masculino ou no feminino), para que todas as pessoas se sintam incluídas e respeitadas.

São formas que estão sendo usadas por diferentes comunidades de falantes e escreventes (no Brasil e no mundo) que testam pronomes (elu/ili) e modificam o final de palavras (concentrade), para não fazer marcação de gênero binário.

Exemplos de linguagem neutra

Na prática, a linguagem neutra exclui qualquer marcação que identifica algum dos gêneros binários (ele/ela ou homem/mulher).

Assim, são exemplos de linguagem neutra:

  • Pronomes neutros: ao invés de usar pronomes do gênero binário (ele/ela), na linguagem neutra usa-se, por exemplo, “elu”. Assim como, ao invés de “dele/dela”, usa-se “delu”, para não fazer referência a nenhum gênero específico.
  • Substantivos e adjetivos neutros: ao invés de usar palavras como homem ou mulher, substituir por pessoa.
  • Formas neutras de tratamento: usar “prezade” ao invés de prezada ou prezado (que se referem a apenas um dos gêneros).
detector de plágio

Por que usar linguagem neutra?

O Manifesto Ile para uma comunicação radicalmente inclusiva da consultoria de diversidade Diversity Bbox explica, com clareza, a importância de se usar uma linguagem neutra:

“Muito tem se discutido sobre a necessidade de um pronome em português que não tenha gênero.
Ou melhor, que seja sem gênero, pra não ter que separar as pessoas por essa classificação.
Nossa língua não previu a mudança de paradigma que está acontecendo no nosso tempo.
Nossa língua não é flexível o suficiente pra designar alguém que não se sente nem homem, nem mulher.
Ou melhor, pra designar alguém que se sente ora um, ora outra.
Ou melhor, pra designar quem não se conforma com as normas de gênero.
Ou melhor, pra falar de quem vive seu gênero de uma forma que é fora da caixa”.

Em resumo, a linguagem neutra é uma forma de incluir e respeitar as pessoas que não se sentem representadas pela forma binária de se expressar (no feminino ou no masculino) — incluir pessoas não-binárias, transexuais, travestis e intersexo. Ou seja, incluir todas as pessoas da comunidade LGBTQI+

Afinal de contas, esse binarismo deixa de fora uma enorme variedade de possibilidades e de identidades, que não se enquadram no gênero masculino nem no feminino.

Ou seja, é uma alternativa para reconhecer (e respeitar) a diversidade de identidades de gênero na linguagem. Além disso, é também uma validação de todo movimento (social e político) que está acontecendo em diversas comunidades na luta por direitos.

Em toda essa discussão, é importante partir do pressuposto de que a linguagem não é algo imutável e que é algo construído por pessoas.

Inclusive, o professor Caetano Galindo, autor do livro “Latim em pó: um passeio pela formação do nosso português” apresenta a perspectiva história das mudanças na língua:

“Verbos surgem, verbos somem, usos se alternam “continuamente vemos novidades”. E essa verdade constante da linguística histórica gera uma consequência igualmente constante: cada geração de falantes aceita as mudanças ocorridas antes de sua época como constituidoras de seu patrimônio linguístico. Mas a tolerância vai só até aí. As mudanças vindas com as novas gerações não são aceitas com a mesma docilidade e acabam marcadas como erros e violências contra o idioma. Desde os registros escritos, alguém reclama que os jovens estão acabando com a língua, seja ela o fenício, o tailandês ou o português”.

Caetano Galindo — Latim em pó (página 34)

Não se deve perder de vista, portanto, que todas as normas (e o acordo ortográfico) foram regras estabelecidas por um grupo de pessoas. Não é algo natural.

Olha só como são as coincidências da vida. Hoje mesmo, quando estava escrevendo esse texto, recebo na minha caixa de entrada a newsletter Escriterapia da jornalista e psicanalista Gabrielle Estevans.

Entre Djavan e a experiência de morar dentro da língua portuguesa — no estilo “Minha pátria é minha língua” tal qual escreveu Caetano, Gabrielle escreveu:

“Sim, essa língua, variada, colorida e esquisita que vai se transfazendo. Malemolente, quente, escorregadia, que rodopia na boca. Fazemos bochechos com as suas novidades. Não há quem segure o que brota de novo. Até tentam, os puristas, mas é tão bonita a lição democrática que uma linguagem viva nos dá: tiram as gravatas da soberba e colocam os pés no rico chão da pluralidade.” 

Gabrielle Estevans — ESCRITERAPIA, newsletter

Seguindo a mesma ideia, a doutora em linguística Janaísa Viscardi explicou, com detalhes e bom humor, sobre esse assunto no podcast Pra não passar em branco:

Na mesma perspectiva, o vídeo da Rita von Hunty do canal do Youtube Tempero Drag explica as funções e a origem da linguagem e como essas questões se alinham à importância de reconhecer todas as formas de existência na forma de falar e escrever:

Como escrever em linguagem neutra?

Para escrever em uma linguagem neutra, você deve se tornar ciente do impacto que as palavras têm na vida das pessoas. É a partir da linguagem que materializamos (e também conhecemos) realidades.

Sendo assim, você tomar todos os cuidados possíveis para garantir que todas as pessoas se sintam incluídas e respeitadas na sua comunicação.

Então, antes de mais nada abra a cabeça para incluir novas formas de falar e escrever. Se coloque em uma posição de estudante e de quem quer aprender com isso.

Além do pronome neutro “elu/delu“, aqui estão outras dicas para escrever em uma linguagem neutra e respeitosa — todas essas dicas fazem parte do Manual de Conteúdo da Mettzer:

Não substitua por X ou @

Algumas pessoas optam por substituir a demarcação de gênero por X ou @. No entanto, aqui estão os motivos que você deve evitar isso:

  • O X ou @ são impronunciáveis. Então, não servem para a linguagem verbal.
  • Essas substituições não são inclusivas para pessoas que têm deficiência visual ou auditiva.
  • Não é uma opção democrática, porque só é usada em bolhas virtuais.
  • Dificultam a compreensão de pessoas que têm dislexia ou dificuldades de leitura.

Tente omitir o artigo no plural

Aqui estão alguns exemplos para omitir o artigo no plural:

  • Ao invés de usar “o professor respondeu às perguntas feitas pelos estudantes”, usar: “o professor respondeu às perguntas feitas por estudantes”.
  • Ao invés de usar “os colegas de João fizeram um bolo de aniversário”, usar: “colegas de João fizeram um bolo de aniversário”.

Use mais substantivos coletivos

Os substantivos coletivos, de forma geral, não fazem nenhuma demarcação de gênero. Olha só:

  • Ao invés de usar “os consultores especializados“, você pode usar “consultoria especializada”.
  • Usar “turmas de graduação“, ao invés de “os estudantes da graduação”.
  • Optar por “corpo discente“, ao invés de “os alunos”.
  • Usar “nossas crianças“, ao invés de “nossos filhos”.

Use você e pessoa

Em alguns frases, você pode fazer substituições simples para “você” e “pessoa”, suficientes para incluir todas as pessoas. Quer ver?

  • Ao invés de “bem-vindo ao blog da Mettzer”, usar “Que bom ter você aqui no blog da Mettzer”.
  • Substituir “estamos procurando um estagiário em Design” por “estamos procurando uma pessoa estagiária em Design“.

Use pronomes indefinidos, sempre que possível

Muitas vezes, você consegue optar facilmente por usar pronomes indefinidos — que não fazem marcação de gênero:

  • Usar “isso é responsabilidade de líderes” ao invés de “isso é responsabilidade dos líderes”.

Use quem ou alguém

Nesse caso, você pode substituir o pronome por “quem” ou “alguém”. Por exemplo:

  • Quem fizer um teste gratuito vai ganhar desconto”, ao invés de “os estudantes que fizerem um teste gratuito […]”.
  • Ao invés de “é necessário ajudar os mais pobres” usar “é necessário ajudar quem é mais pobre”.

Troque o adjetivo por um verbo ou substantivo

Aqui estão alguns exemplos para você trocar o adjetivo por um verbo ou substantivo:

  • Ao invés de “sucesso! você foi registrado” usar “sucesso! seu registro está completo!“.
  • Usar “você se interessou?” ao invés de “ficou interessado?“.

Usar os dois gêneros ou denominação genérica

Você pode entender melhor essa dica a partir de exemplos com profissões. Olha só:

  • No usar: “procuramos engenheiro de software”.
  • E sim: “procuramos profissionais de engenharia de software”.
  • Ou então: “procuramos engenheiros e engenheiras de software”.

Conte com a Mettzer para ajudar no seu trabalho

Não sei se você já sabe, mas Mettzer é uma ótima aliada de estudantes.

Isso porque, independentemente do tipo de trabalho – seja um TCC, uma monografiadissertação e até tese – e da área do conhecimento, você deve respeitar as normas científicas de formatação.

Se você seguir as regras, seu trabalho vai ficar pronto. Mas o tanto de trabalho que dá né?

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1 comentário em “Eu, tu, elu  — por que e como usar a linguagem neutra?”

  1. Beatriz, contente em me encontrar por aqui. Que a newsletter tenha feito clareira nos caminhos aí do outro lado. Te abraço.

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