O processo criativo é o direcionamento de esforços para organizar pensamentos e ideias, com o objetivo de colocar a criatividade em prática. Vem descobrir o melhor caminho para você.
Sumário
- O que é processo criativo?
- Etapas do processo criativo
- Caminhos que você pode seguir no seu processo criativo
- O que você precisa deixar de lado
De onde vêm as boas ideias? A pergunta que Steven Johnson faz no título de seu livro nos faz pensar como funciona o processo criativo dentro das pessoas.
Mas, antes que esse papo comece a ficar muito abstrato, deixa eu te falar: segundo a pesquisa Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial, nos próximos anos a criatividade será uma das dez habilidades profissionais que vão fazer os olhos das grandes empresas brilharem.
Além do mais, você já deve saber, a vida acadêmica exige uma boa dose de criatividade, que vai desde as escolhas dos temas até a produção de infinitos trabalhos acadêmicos com qualidade e originalidade.
Esses dois grandes motivos já vão te fazer querer estudar sobre os processos criativos, não é mesmo?
A notícia ruim é que eu não posso te passar um passo a passo para você se tornar uma pessoa mais criativa. É que criar coisas novas exige algo além de uma receita de bolo.
Afinal de contas, o processo criativo é algo que acontece principalmente dentro da gente. Então, o que funciona para mim, pode não funcionar tão bem para você.
Por esse motivo, esse artigo é para te mostrar diversos caminhos para melhorar seu processo criativo e, por consequência, aumentar sua produtividade acadêmica.
O objetivo é que, no final do texto, você consiga testar e aplicar algumas dessas dicas no seu cotidiano. Depois disso, me conta quais serviram mais ao seu processo. Combinado?
O que é processo criativo?
O primeiro passo é entender o que, afinal, é um processo criativo. Vamos lá.
De forma geral, o processo criativo é um processo de estruturação para o desenvolvimento de atividades criativas: desde o surgimento da ideia até a realização do projeto.
Nesse contexto, executar um processo criativo é direcionar esforços para organizar pensamentos e ideias para colocar a criatividade em prática.
É importante ter em mente que o processo criativo é um padrão específico do percurso para chegar em novas ideias.
Mesmo porque as ideias não surgem de um momento de iluminação, como um flash na mente de um gênio criativo.
É justamente o contrário: as ideias inovadoras precisam de um processo que leva um certo tempo. O que realmente faz esse processo ser eficiente é tê-lo como uma prática estável e recorrente.
Depois que você conhece e define o seu próprio processo criativo, fica muito mais fácil direcionar esforços para as etapas desse processo.
No fim, você otimiza o seu tempo e melhora sua produtividade.
Sem contar que a definição de um processo criativo com etapas muito bem estruturadas evita que você fique paralisada em bloqueios criativos.
Etapas do processo criativo
A divisão do processo criativo em etapas é um resultado das teorias de Graham Wallas, um psicólogo inglês que, em 1926, desenvolveu o modelo 4-stage model.
A ideia dessa teoria era justamente implementar um processo criativo que, em quatro etapas, permitisse gerar ideias com bases mais sólidas.
1. Fase da preparação
A primeira fase é o momento de entender e estruturar as ideias centrais da ideia. É a hora de pensar qual é o objetivo d o projeto, quais os melhores caminhos para seguir, quem é o público-alvo, qual é a marca, enfim.
É uma fase de assimilação, que prepara o cérebro com as principais informações sobre o desafio que se pretender superar.
Em termos mais simples, é a etapa de estudo e pesquisa sobre a ideia.
2. Etapa de incubação
A segunda é etapa é justamente o oposto da fase anterior, porque é uma fase inconsciente, para assimilar e trabalhar as ideias de forma independente no cérebro.
É uma parte do processo que permite que a mente faça associações mais concretas em relação àquelas ideias.
Depois que as ideias foram assimiladas, o cérebro é capaz de priorizar as atividades e outras ideias começam a surgir.
Em termos práticos, é uma etapa que se deve aproveitar o ócio, se dedicar a outros projetos e fazer outras atividades que demandem outros tipos de estímulo.
3. Fase da iluminação
É a terceira etapa do processo. Não é um momento em que a lâmpada acende e a ideia surge em um clarão, absolutamente do nada. Isso acontece só nos roteiros de desenho animado.
Veja bem. É a terceira fase do processo. Antes disso, já houve estudo e dedicação no projeto e você já deixou o cérebro assimilar as ideias.
Essa é a fase que, depois do estudo profundo sobre as informações, os pensamentos começam a ficar mais concretos e as ideias ficam mais claras na cabeça.
4. Fase da implementação e da verificação
Um grande efeito das boas ideias é gerar sentimentos de animação, suficientes para colocar todas as ideias em prática. Só que só o ânimo não garante o sucesso do projeto.
Então, essa etapa é o momento de colocar em prática todas as questões. É a fase mais mecânica e mais operacional de todo processo.
Caminhos que você pode seguir no seu processo criativo
Como eu disse antes, você precisa encontrar os trajetos que mais se alinham às suas necessidades e à sua forma de enxergar o processo criativo.
Aqui estão nossos palpites. Me conta o que serviu para você? 🙂
Entenda que uma ideia nova não é um momento de iluminação, mas um processo
Se você chegou até aqui, já sabe que as ideias novas não surgem da noite para o dia. Nem em um passe de mágicas.
Também não é um dom divino, que apenas algumas pessoas recebem ao nascer.
O processo criativo compreende etapas estratégicas. E é, como o próprio nome diz, um processo acessível a todas as pessoas que estejam dispostas a pensar e conhecer o caminho que melhor se encaixa às suas necessidades.
Então, precisamos deixar de lado metáforas e expressões que dão a entender que as ideias surgem de um clarão. Que ter ideia é uma coisa simples, que acontece a todo momento.
Esqueça expressões como: iluminação, flash, momento de inspiração, epifania, uma luz que acendeu, por exemplo.
Ao contrário disso: as ideias são uma rede. Uma nova ideia é uma rede de neurônios que nunca aconteceu antes e que estabelece sincronias com outras partes do cérebro. Essa é a primeira dica que Steven Johnson nos dá.
Como nos colocamos diante de conectar essas ideias pode ser uma resposta para iniciar esse percurso. Então, como colocamos nossos cérebros diante de situações que essas novas conexões sejam mais propícias a acontecer?
A propósito, vale a pena conferir o TED em que Johnson explica essa ideia mais profundamente:
Tenha constância
Talvez sua avó já tenha te avisado que “fazendo é que se faz“. Ou que a “prática leva à perfeição“. Enfim, o ponto de vista da constância não é necessariamente em relação aos resultados. Mas em relação a praticar os processos e a insistir nas ideias.
Eu sei que o meio acadêmico exige uma produtividade sobrenatural. Não por menos, os índices de estudantes da graduação e da pós-graduação com problemas psicológicos são realmente alarmantes. Existe muita cobrança.
O que eu quero trazer aqui, por outro lado, é sobre aproveitar o processo, sem expectativa e sem compromisso com resultados.
Mesmo porque, como disse Steven Johnson, boas ideias demandam longos períodos de incubação.
Isso não significa que estamos sendo improdutivos. Afinal de contas, todos os processos – inclusive aqueles que “deram errado” – geram aprendizados e fazem parte de um resultado maior.
E para praticar a constância, colecione boas perguntas e busque menos verdades absolutas. Faça listas de ideias e separe as ideias em partes menores para digerir cada pedaço.
Essa são dicas especiais da artista plástica Bruna Vettori, que acredita que colecionar boas perguntas é um bom caminho para descobrir novos caminhos. É dela a frase que diz: “As coisas boas levam tempo. Comece o quanto antes”.
Isso significa sentir-se confortável com as dúvidas e anotar os avanços e as dificuldades do trajeto. Criar teorias, validar hipóteses e se acostumar com a característica do processo.
Anote preocupações que podem ocupar espaço na cabeça
Nós vivemos rotinas confusas e desgastantes. Recebemos estímulos por todos os lados e precisamos dar conta de muitas coisas ao mesmo tempo. Você precisa ter boas ideias e pagar boletos no mesmo dia.
Só que, não tem jeito, as ideias novas precisam de espaço na cabeça para se desenvolver.
Pense como se fosse realmente um espaço físico. Dividir esse espaço com outros tipos de tarefas não é uma boa ideia.
Então, que tal preparar um ritual para planejar o dia pela manhã? Você deve anotar tudo o que vêm à cabeça e as tarefas que precisa fazer no dia e na semana.
Quando as tarefas estiverem no papel, você vai se sentir segura de tirar ela da cabeça.
Se precisar, coloque alarme para lembrar de tarefas importantes e que tenham horário marcado. Retire as notificações de mensagens do celular para que não te interrompam a cada 10 minutos.
Isso vai garantir a tranquilidade que você precisa para investir em uma ideia – e não pensar na lista de supermercado ao mesmo tempo 🙂
Criatividade é o bicho e a curiosidade é o alimento dele
O ponto desse tópico é pensar que grandes e novas coisas surgiram porque alguém parou para se perguntar: “e se? por que? como funciona?”
Afinal de contas, o comodismo e a conformidade fazem as pessoas permanecerem exatamente onde estão.
Daí porque se diz que a curiosidade alimenta a criatividade. Principalmente porque a curiosidade faz perguntas que a criatividade sai para buscar a resposta. É nesse ponto que ideias novas surgem.
Pare para perceber para onde a tua curiosidade te guia. Talvez tenha te feito conhecer um restaurante novo. Um lugar novo. Talvez tenha te feito fazer aulas de inglês, de violão, de pinturas de aquarela.
Elizabeth Gilbert escreveu o livro A grande magia, no qual descreve seu processo criativo de forma bastante didática (e até poética).
Dentre todos os pontos altos do livro, ela destaca que a curiosidade é como um ingrediente essencial à criatividade e as inevitáveis frustrações são como simples partes do processo.
Enfim, posso te dar algum exemplo dentro dos conhecimentos científicos. Como a história do cientista que parou para analisar a situação das incubadoras que mantém os bebês aquecidos e, com esse simples fato, diminui de forma relevante a taxa de mortalidade infantil.
Só que as incubadoras eletrônicas têm uma vida útil muito curta em países que não têm peças para consertá-las.
Por outro lado, nesses mesmos países, há conhecimento suficiente para manter carros rodando em perfeito estado.
Sendo assim, os cientistas pararam para pensar “e se existissem incubadoras neonatais com peças de carros?”
Foi aí que surgiram incubadoras que funcionam como carros e que mecânicos dos países sabem muito bem como consertar.
Veja a partir de quantas perguntas essa invenção surgiu. Entendeu? 🙂
Se conecte com pessoas
Um pesquisador, Kevin Dunbar, desenvolveu uma investigação em grandes laboratórios para descobrir de onde as ideias mais importantes surgem.
Para isso, ele gravou a jornada de trabalho de todas as pessoas do laboratório, desde os momentos isolados no telescópio até as conversas de corredor e no bebedouro.
E a conclusão dele é que, ao contrário do que se imagina, as ideias mais importantes não aconteceram em momentos no telescópio ou no computador, mas em mesas de conferência, quando muitas pessoas compartilham sobre suas descobertas, sobre suas dificuldades e erros de percurso.
Aí está a grandeza dos compartilhamentos e das conexões com pessoas diferentes, para conhecer novos pontos de vista e experimentar a ideia por outros ângulos.
É sempre bom ter cuidado com verdades absolutas. O grande aprendizado surge quando nos colocamos em estado de aprendizagem.
Então, ao invés de proteger ideias em segredo, é importante ouvir outras opiniões, comentar sobre os projetos com pessoas e escutar o que elas têm para dizer. Steven Johnson diz que “a sorte favorece as mentes conectadas“.
Sobre esse assunto, vou deixar a ideia de um vídeo da Chimamanda Ngozi Adichie, que fala especialmente sobre o perigo da história única.
Essa história também é contada em formado de livro, bem curtinho e gostoso de ler:
Ouça música como parte do processo criativo
Existem pesquisas científicas que mostram que as músicas ajudam a relaxar e a estimular o corpo e a mente.
Isso faz com que partes do cérebro que se relacionam à motivação e à emoção se ativem. O que, por consequência, auxilia no processo criativo.
Por isso, procure uma música que te ajude a abstrair do ambiente ao seu redor e focar só nas suas ideias.
Com certeza, um estado de consciência com maior foco ajuda a aumentar a produtividade e as chances de surgirem novas ideias.
Tenha muitas referências, inclusive de outras áreas
Quanto mais informações você tiver sobre um problema, maiores serão as chances de encontrar soluções possíveis. Então, nutra seu repertório com muitas referências.
Você pode buscar essas referências em vários lugares: em filmes, séries, livros, revistas e jornais.
Mas outra dica importante é: busque referências de suas áreas e de áreas complementares às tuas.
Faça correlações para amplificar seu olhar. Investigue um objeto por diversos pontos diferentes.
Consuma conteúdos que vão expandir sua base de conhecimentos e podem virar referência a qualquer momento, sempre que você precisar de ideias novas.
Dormir também faz parte do processo criativo
Às vezes, a rotina durante a faculdade pode ser muito cansativa, já que é necessário conciliar estudos, cursos extracurriculares, estágios e mais outras atividades que consomem tempo e energia.
Então, ao eliminar o cansaço, dormir pode ser uma boa maneira de ajudar a desbloquear a criatividade e deixar a mente pronta para focar na solução de problemas.
Quando você perceber que está exausta, procure tirar um tempo para descansar. Tenho certeza que você voltará mais ativa para encontrar novas e boas ideias.
Pratique exercícios físicos
Existe comprovação científica de que a prática de exercícios, além de trazer benefícios para o corpo, pode ajudar nossa mente, aumentando a capacidade de pensar de forma criativa.
A ciência justifica isso a partir da ideia de que as pessoas que se exercitam conseguem alcançar maior variedade de pensamentos divergentes, algo fundamental para se pensar em novas soluções.
Não é bem novidade que o movimento gera a integração entre o corpo e a mente. O escritor Eduardo Galeano se chamava de “caminhante profissional” e dizia que tinha novas ideias sobre seus livros durante as caminhadas.
Então, quando bater um bloqueio mental, procure praticar algum movimento do corpo e, só depois, retornar às atividades. Garanto que as ideias vão fluir de forma diferente.
Crie um ambiente estimulante para você
Algumas pessoas precisam de silêncio, outras precisam de estímulos. Algumas pessoas preferem trabalhar em um ambiente limpo e organizado, outras se sentem melhor em ambientes com muitas informações.
Pois bem. Existem muitas formas de criar um ambiente estimulante para a criatividade e a configuração vai depender exatamente do que funciona melhor para o processo de cada pessoa.
Mas, independente de como ele seja, é importante criar um espaço em que você se sinta estímulos para criar coisas novas.
Nesse ponto, você pode até estudar sobre cromoterapia, sobre disposição de móveis e de luz solar e estudos sobre cheiros e óleos essenciais, enfim.
É importante encontrar o que melhor se adapte às suas necessidades 🙂
O que você precisa deixar de lado
Para desenvolver um processo criativo, você deve deixar de lado algumas questões. Veja só.
O medo da vulnerabilidade
Os erros e as frustrações fazem parte do processo. Aprenda a lidar com isso o quanto antes. É provável que muitas ideias não deem certo e que você erre no caminho. Isso faz parte.
Gerencie suas expectativas sobre os resultados e pratique a constância de simplesmente fazer.
Uma dica muito legal sobre esse assunto são 6 itens da lista de 10 sinais de uma vida abundante, que Brené Brown escreveu no livro A arte da imperfeição:
- Cultive a autenticidade; se liberte do que os outros pensam.
- Cultive a autocompaixão; se liberte do perfeccionismo.
- Cultive um espírito flexível; se liberte da monotonia e da impotência.
- Cultive a criatividade; se liberte da comparação;
- Cultive o lazer e o descanso; se liberte da exaustão como símbolo de status e da produtividade como fator de autoestima.
- Cultive a calma e a tranquilidade; se liberte da ansiedade como estilo de vida.
Uma outra dica de produções da mesma autora é o livro O poder da vulnerabilidade. Você pode saber um pouco mais nesse vídeo:
Falta de prazos e planejamentos
A ideia de prazos e pressa pode assustar o desenvolvimento de ideias. Afinal, criar sob pressão é sempre mais difícil.
Contudo, por outro lado, os prazos e os planejamentos ajudam a deixar a ideia mais prática e menos abstrata.
A partir do planejamento, você saberá quais as tarefas precisa fazer e o prazo para entregá-las. Isso pode facilitar o percurso.
Além do mais, o planejamento dá tranquilidade e concentração para desenvolver o projeto. É aquela ideia de abrir espaço para que as ideias se desenvolvam na cabeça.
Mas, nesse caso, estou falando de prazo exequíveis. Ou seja: um prazo que seja possível cumprir.
Ferramentas que podem te ajudar nesse percurso
Você também pode contar com a ajuda de algumas ferramentas no caminho. Aqui estão nossas dicas:
Mapas mentais
Os mapas mentais são construções visuais que ajudam a gerenciar informações dentro de um esquema gráfico.
É como se as pessoas estivessem rascunhando as redes de conexões de todas as ideias que envolvem um projeto, para então, chegar em novas conclusões.
Tempestade de ideias
Talvez você conheça essa ferramenta pelo termo em inglês brainstorming. Mas eu realmente gosto da ideia de chover ideias.
Bom, a tempestade de ideias é uma técnica bastante tradicional, que reúne as ideias de várias pessoas que trabalham em um projeto.
O foco é coletar o máximo de insights possíveis e selecionar, sempre de forma coletiva, o que é mais adequado.
PNI – positivo, negativo e interessante
A PNI é uma ferramenta que compreende três aspectos de uma ideia: os aspectos positivos, os negativos e o que é interessante.
A ideia é categorizar as ideias nesses três aspectos. Depois dessa classificação, fica mais fácil filtrar ideias e trabalhar com soluções.
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Pesquisadora. Mestra em Direito pela UFSC. Acredita que conhecimentos acadêmicos só servem se ultrapassarem os muros das universidades e que conhecimento bom é conhecimento compartilhado e construído por todas as pessoas.